Relato pós fratura de tornozelo.
raio x pré operatório |
Na hora eu ria para não chorar, sou profissional de Educação Física, estou sem emprego fixo, sem plano de saúde, sem poder me mexer!
raio x 6 semanas após operação |
Bom aí foi só esperar o tempo passar. Só?! Os primeiros dias tive uma mistura de desespero, com tédio, incapacidade e dependência. É impressionante como a falta de um pé te deixa tão dependente de outras pessoas. Tudo fica difícil, tudo fica longe e o pior, se ficar muito tempo de pé tudo fica inchado e dói. A melhor opção era ficar deitada com a perna pra cima.
Durante esse tempo fiquei muito irritada, principalmente por não conseguir fazer as coisas sozinha, por ter que pedir ajuda, e apesar das pessoas normalmente se prontificarem a ajudar, me irritava o fato de que aquilo que eu pedia para ser feito não saia exatamente como eu queria e eu ficava brava, mas sabia que não podia pois elas estavam me ajudando. Algo difícil de controlar, pelo menos para mim. Outra coisa que me deixava louca era não poder fazer exercícios, fui atleta de natação por mais de 10 anos e sempre procurei atividades de alta demanda energética, senti muita falta da endorfina, de sentir cansaço à noite, de ter sono, de saber que o dia rendeu... Outra coisa muito ruim, foi ter que reduzir a quantidade de comida, não é uma obrigação, mas a não ser que se queira engordar uns 10 quilos em 2 meses é totalmente necessário. O problema é que eu gosto muito de comer, e geralmente quando fico entediada eu como. Tive que me esforçar muito para fechar a boca. Passei a pensar nos obesos com mais consideração em relação ao sofrimento durante as dietas.
As primeiras 3 semanas foram as piores, a partir de então comecei a me acostumar (ou me forcei a me acostumar). Procurei atividades alternativas, comprei um ukulele (espécie de cavaquinho havaiano), descobri que não é tão fácil como parece, assisti todas as temporadas de mais de 5 seriados diferentes (Breaking Bad é muito bom! e Netflix também!). Pesquisei sobre suplementação de Cálcio, descobri que a melhor maneira é ingerir alimentos ricos em cálcio, e não através de cápsulas, e para melhor absorção do cálcio é necessária a vitamina D, ou seja se alimentar bem e pegar sol. (pelo menos uma coisa boa nessa história). (Sugestão de alimentos: sardinha, brócolis, leite, gergelim). Ah, e reduzir a quantidade de sal também é importante pois ele inibe a absorção do Cálcio.
Assim que as dores foram diminuindo procurei me movimentar de alguma maneira, ainda com o pé pra cima. Abdominais não são a coisa mais divertida do mundo mas quando é única opção não se pode reclamar. Contrair a coxa durante 5 segundos do lado machucado também já ajuda um pouco. Mexer os dedinhos é algo já automático para tentar ativar a circulação, já que a panturrilha não se movimenta.
Usei uma tala gessada durante as duas primeira semanas após a cirurgia (para decepção das minhas amigas que queriam muito assinar no gesso). Depois coloquei uma bota ortopédica (robofoot). Uma melhora muito boa! Não precisar tomar banho com um saco na perna foi um grande alívio. Aliás o banho é algo muito complicado, principalmente se o box for pequeno. Depois de algum tempo fiquei muito contente por não precisar mais de cadeiras no banheiro e principalmente em poder tomar banho em pé. Outra utilidade da bota é que com essa onda de tirar selfies uma amiga descobriu que ele funcionava como um ótimo suporte para o celular na hora de tirar fotos, ela apelidou de pé de selfie!
Logo que o médico autorizou a movimentar o pé, fui mexendo aos poucos mas sempre tentando estimular bem a articulação, sem colocar carga. Massagear o pé também é muito bom. Por muito tempo meu maior desejo era poder acordar e levantar com os dois pés no chão sem precisar de nenhum apoio.
Fiquei 5 semanas com a bota, foi quando o médico disse que eu poderia começar a colocar peso aos poucos na perna. A sensação é muito estranha, falta força, muita sensibilidade, alguns formigamentos, mas a evolução é gratificante, em uma semana já não precisava de muletas, mas a marcha fica extremamente lenta pela falta de flexibilidade. Mas ficar independente das muletas foi o início da liberdade.
Uma coisa que me deixou e ainda deixa um pouco intrigada, foi que os médicos disseram que eu não precisaria de fisioterapia. Hein?! 2 meses parada e não precisa de fisio? Como profissional de educação física isso eu não entendi até agora. Li muitos depoimentos na internet de pessoas com fraturas similares e que uns 10 dias após a cirurgia já começavam tratamentos fisioterápico. Como fiquei na dúvida assim que me autorizaram a tirar a botinha procurei na internet alguns exercícios de tornozelo e comecei em casa mesmo. Como queria que a melhora fosse mais rápida procurei uma fisioterapeuta, ela também estranhou a opinião dos médicos sobre a recuperação. Inciei as sessões de fisio e senti que a melhora está sendo muito boa, apesar de ter pouca força e os movimentos estarem bem limitados.
Durante todo esse tempo a ajuda e a presença dos amigos e familiares é muito importante, fiquei muito grata por ter tantas pessoas queridas à minha volta, elas me ajudaram e muito! Engraçado como essa situação me levou a enxergar algumas coisas de maneira diferente, não sei explicar ao certo, mas dar mais valor à coisas simples.